Não é preciso gostar da música para admirar Ivete Sangalo. Porque bonitas, o Brasil, esse país de cantoras, tem delas aos montes. Talentosas também, não há como negar. Só mesmo o carisma, essa qualidade que não pode ser fabricada, é que explica como ela, de musa do axé, é hoje a maior cantora pop brasileira. Pois ondas vêm e vão, ao sabor do mar eternizado nos versos do conterrâneo Dorival Caymmi. Mas Ivete fica, imune a modas e tendências musicais.
É claro que essa receita não seria tão equilibrada não fosse um elemento incontestável em qualquer trajetória de sucesso: trabalho árduo. “Trabalho muito, tenho muito amor pelo que faço. Para isso, há muitas renúncias também. Mas em nenhum momento as pontuei, nem verbalizando, nem internalizando. Gosto do que faço, é uma luta diária, mesmo sendo conhecida, famosa. Não fico em casa esperando que as coisas aconteçam”, admite.
Quando fala isso, Ivete não está fazendo média. Ela conversou com a HIT logo depois de deixar a Assembléia Legislativa de Minas Gerais, na noite em que, com genuína emoção, encantou um plenário lotado ao receber o título de Cidadã Honorária do Estado. Saindo de lá, ainda recebeu os fãs que a esperavam. Dali, foi direto para o consultório de sua fonoaudióloga, Janaína Pimenta de Oliveira, nome citado por ela no discurso na Assembléia.
Festa? Que nada. Ainda que o clima fosse festivo, seu encontro tinha uma razão maior. O ano está terminando e, com o verão, têm início os preparativos para mais um carnaval. E Janaína, que vive e trabalha em Belo Horizonte, muda-se para Salvador um mês antes da folia. Ivete não adianta muito o que irá fazer. Como o homenageado será Jorge Amado, seu camarote terá como tema A casa do rio vermelho, como é chamada a residência que viveu com a mulher, Zélia Gattai (autora de livro de mesmo nome), em Salvador.
Ela sai três dias no Bloco Coruja e outros dois no Cerveja e Cia. “As novidades são criadas para dar um it no carnaval. O que mais importa são as coisas que acontecem espontaneamente em cima do trio. E o repertório, é claro. Porque você pode vir enfeitada de brilho e beleza, mas a peça chave é a música.”
Isso só vem reforçar o que foi visto numa festa bem diferente, ocorrida mês passado. Ivete calou a boca daqueles que queriam ver o circo pegar fogo no Rock in Rio. Durante hora e meia, com música e o show baseado no que faz Brasil afora, transformou a Cidade do Rock numa grande micareta. No bom sentido, diga-se de passagem. É a tal magia do palco, que muitos tentam e só alguns conseguem.
Assim que terminar o período momesco, Ivete retoma sua turnê do show no Madison Square Garden. O espetáculo, realizado em 2010 no mítico palco de Nova York, foi sem dúvida um dos mais ambiciosos do showbizz nacional. Durante este ano, Ivete viajou com ele pelo Brasil, mostrando para o público daqui a apresentação tal qual foi registrada na gringa. Quinhentos mil DVDs vendidos, numa época em que o digital é quem dita as regras no mercado fonográfico, são um feito e tanto.
Mas Ivete quer mais. Por isso, vai destinar boa parte de 2012 a uma turnê internacional desse mesmo show. Pretende rodar o mundo: Américas, Europa, África, Ásia. “A agenda do ano que vem está praticamente fechada. Só que não há como ficar longe do meu país.” Então, a partir de março, ela começa a fazer os shows lá fora, volta para cumprir a agenda aqui e assim sucessivamente.
E não apenas (apenas?) isso. Os planos para 2012 ainda incluem a criação de uma fundação beneficente voltada para crianças. Ivete tem se mirado no que Xuxa faz com a Fundação Xuxa Meneghel. “O modelo dela é muito legal. O meu não será uma filial, mas estou pensando em fazer algo semelhante.”
No ano que se aproxima, a cantora também chega aos 40 (nasceu em 27 de maio, em Juazeiro). A idade não a assusta – “ainda não absorvi isso, o que é mais importante” – mas volta e meia, quando se olha no espelho, Ivete descobre aspectos diferentes. “Penso que mudei nisso e naquilo, mas não entro em paranoia. Tanto que me prefiro muito mais hoje, pois estou mais adulta e bem resolvida. E mais bonita também”, acrescenta.
A nova década ainda traz a vontade de ter mais filhos (Marcelo, seu filho com o nutricionista Daniel Cady, está com 2 anos). Ela quer dois e pensa em engravidar no ano que vem. Como sonha ter três ao todo, quer que o intervalo entre o segundo e o terceiro seja bem pequeno. Mas como se trata de Ivete Sangalo, tudo tem que ser muito planejado. “Filho é uma responsabilidade definitiva, mas não somente isso. Tenho que pensar nos outros.”
E não são poucas. Ivete não sabe o número exato, mas diretamente sua empresa, Caco de Telha, emprega em torno de 150 funcionários. “Ou seja, até para ter filho tenho que pensar nas outras pessoas.” Também empresária, ela diz que as decisões finais têm que ser pautadas em sua própria direção. “Não é como o trabalho de uma fábrica, de fazer um jarro. Se quiser aumentar o número de jarros, uma máquina faz. Sou eu, minha voz, meu corpo, minha disposição e minha vontade de fazer.”
Essa, os fãs podem comemorar, não tem a menor chance de diminuir por ora. Cantora de multidões, ela diz já ter pensado em fazer um show mais intimista, chegou inclusive a preparar repertório. “Mas não consigo, ia ser muito para mim. Ave, Maria! Um show intimista, com a energia que tenho agora? Ainda mais porque estou há 16 anos fazendo isso, para mudar teria inclusive que reeducar minha voz.”
Uma voz que foi educada no universo do axé, porém que ultrapassou esses limite. Hoje, Ivete coloca no mesmo balaio os arrasa-quarteirões Festa e Abalou com pérolas com acento soul como Easy (Lionel Richie) e o clássico pop Human nature, mais conhecido no registro de Michael Jackson. Resultado de um gosto musical que não tem muitos limites. “Ouço de tudo, pois as músicas se adequam a cada hora. Elis Regina nem precisa falar. Em Minas, meu lado romântico é de Minas, Lô Borges, Flávio Venturini. Gosto de rock, quando é adequado. Coisas do funk, mais para o lado do Cassiano. Mas o que mais gosto de cantar é samba-soul. Engraçado, não?” Nesse balaio, ela admite, cabe também sertanejo.
As duplas (e agora os cantores solo também) vieram, nos últimos dois anos, ocupar o espaço dos shows mais concorridos de bandas e astros do axé. A agenda de Ivete não sentiu a dominação sertaneja, porém ela concorda que eles sejam a bola da vez. “Acho que eles são e deve ser assim. Pela minha experiência, sei que tudo é muito sazonal. E a unanimidade é engessada. Então, é natural que em cada segmento um ou dois artistas se estabeleçam. E um segmento não pode liderar o tempo todo.”
No entanto, ela reconhece que sua posição é confortável. “É complicado falar sobre isso, pois não sou eu quem determina as coisas. Lógico que acho maravilhoso, mas não fico achando que não preciso fazer determinada coisa porque cheguei onde estou. Não sou diferente de outros artistas.” Bem, mais ou menos. Ivete foi um pouco (pouco?) além. Ultrapassou, há muito, a linha que separa os cantores das celebridades, essa palavra tão banal hoje em dia mas que, na realidade, só se aplica a alguns. Não pode ir a shopping, supermercado, tampouco cinema, sem chamar a atenção. “Não posso fazer mais isso, mas quer saber? Minha vida é bem normal”, conclui.
Fonte: Divirta-se
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