quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Ivete Sangalo: "Antes de ser famosa, sou mulher"

Em entrevista exclusiva, a cantora fala sobre a importância da saúde em sua vida e como enfrenta as pressões dos padrões de beleza.
Ivete Sangalo: "Antes de ser famosa, sou mulher"
Talentosa, bela, bem-sucedida, mãe, mulher, profissional, dona de casa. Tudo junto e misturado na figura dela que é um dos principais ícones femininos desta geração: Ivete Sangalo - um símbolo de que os tempos e as mentes realmente evoluíram. 
Em entrevista ao Tempo de Mulher, Ivete (que acabou de se recuperar de uma meningite) mostrou seu ponto de vista sobre a evolução da história da mulher e as múltiplas funções que formam a incrível - e flexível - identidade feminina. 

TDM: A ditadura da beleza atinge a todas nós, mas quem está na mídia sofre muito mais com a exigência dos padrões impostos do que quem não está. Um exemplo disso foram os comentários de voltar à forma depois de dar à luz Marcelo. Como encarou essa pressão?
Ivete Sangalo: Acho que para beleza, e para qualquer outra coisa, se você sucumbe a qualquer pressão que não está de acordo com os seus pensamentos, é porque você precisa de uma ajuda maior do que o que você imagina. Você sucumbir a uma pressão de terceiros, que sequer sabem da sua rotina, do seu dia a dia e daquilo que você acredita na realidade (no meu caso diante de uma nova experiência com a maternidade), eu acho que isso denota uma fragilidade na personalidade. Eu estava me sentindo muito bem do jeito que estava, fiz minhas escolhas e é preciso ter maturidade quando se faz escolhas. Para cada escolha, uma renúncia. Talvez a renúncia seja a do elogio, do corpão. Mas a minha escolha foi infinitamente mais prazerosa, do que estar presa dentro de um conceito que não era meu.

TDM: Até que ponto o fato de estar no topo da carreira e habitar o imaginário de muita gente influencia nos seus cuidados com o corpo?
Ivete: Eu sempre fui uma mulher muito cuidadosa comigo, especialmente em relação à saúde. A estética sempre foi uma consequência da minha preocupação com a saúde. E tem muito a ver com amor próprio, saúde, que gera cabelo brilhoso, pele bonita... Antes de ser famosa, sou mulher. Eu acho que isso é uma peculiaridade feminina, apesar de hoje a gente ter osmetrossexuais, que são muito bem-vindos na sociedade, mas isso sempre foi um padrão imposto às mulheres. Desde que a gente nasce sabe o que é um batonzinho, sabe pentear o cabelo, fazer um cacho, fazer uma escova. Então eu, como toda boa mulher, tenho o hábito de cuidar de mim. Agora, por ser uma pessoa pública, talvez eu me arrume mais para ir a um determinado lugar, porque vou ser vista ou fotografada. Eu nunca me peguei agindo assim, de forma tão perceptível, mas talvez inconscientemente tenha feito isso. Mas isso não me incomoda não. Acho que você se ajeitar pra ir a um lugar público gera respeito com o público, de você estar bonitinha. Quando você sai para paquerar, se arruma também, e o público tem um relacionamento intenso com você, então tem que ter cuidado com eles. 

TDM: Você é um símbolo feminino de independência e modernidade. Como descreveria a nova mulher brasileira, no que diz respeito ao comportamento (sexo, relacionamento, maternidade e postura profissional)?
Ivete: Acho que a mulher brasileira é moderna há muito tempo. Talvez não tenhamos ainda a consciência de que a globalização só fez popularizar essa ideia. Mas a mulher brasileira é intensa, dinâmica e independente e especialmente aquelas que eram domésticas, as mães de família. As nossas mães eram mulheres independentes e donas de si, além de rainhas da organização, da administração. Eu acho que ninguém em sã consciência administraria, por exemplo, a casa que minha mãe administrava. Seis filhos, seis escolas, seis dentistas, seis médicos... Era uma microempresa. Eu me lembro que era um ritual diário. Minha mãe só ia deitar quando estávamos todos já fartos de comida e de brincadeira, de tudo. Hoje nós somos mulheres modernas e com um aparato para facilitar isso. A modernidade da mulher brasileira vem de muito tempo já.

TDM: Além da questão estética, sofremos cobranças em muitos outros campos: temos que ser profissionais (competentes), mães (superdedicadas), amantes (fantásticas), amigas (pra todas as horas). Você se cobra muito nestes aspectos ou se permite falhar de vez em quando? O que mais pega para você?
Ivete: Independente de me permitir falhar, eu tenho consciência de que vou. Senão como é que ficaríamos, né? rs... Que eu vou falhar, eu vou. Se eu sofro com isso, depende do tamanho da falha. Isso não significa que eu vá sofrer mais porque eu sou mulher. Eu acho que um homem também, quando falha, ele sofre, a criança quando falha, ela sofre. Isso independe de ser mulher ou não. Mas acho que essa cobrança é fruto de uma luta feminina. A mulher lutou para isso. A mulher não abriu mão dos afazeres de casa, de ser mãe, para ganhar espaço no mercado. Ela simplesmente acrescentou um item a mais na rotina dela. A mulher é tão capaz que ela buscou e conseguiu. 

TDM: Como lida com suas frustrações diárias? Você tem angústias guardadas, que fazem de você uma mulher-maravilha, mas de carne e osso?
Ivete: Eu não me permito ficar triste ou remoendo frustração. Fui criada em um ambiente em que a felicidade e a alegria eram supervalorizadas. A minha mãe nunca permitiu tristeza dentro de casa, então fomos criados assim. Problemas são inevitáveis, mas se a gente tem saúde, tem que correr atrás para resolver. É tão mais fácil ser alegre, sorrir, facilita as coisas.

TDM: Já queimamos o sutiã, conquistamos a independência e não precisamos provar mais nada a ninguém. Qual o maior desafio da mulher hoje? Que tipos de direitos, liberdade ou consciência ainda precisamos conquistar?
Ivete: O maior desafio da mulher hoje é parar de levantar essa bandeira, de que é multifacetada sem conseguir ser. Ou ela é ou ela não é. Então já queimamos o sutiã, já levantamos a bandeira, já batemos as panelas, já conquistamos o mercado de trabalho. Mas continuamos mulheres, mães. Ninguém vai deixar um filho chorando no berço, mulher não deixa. A mulher não deixa o filho cair, a mulher não deixa o filho ficar sem comer, a mulher não deixa o menino ficar com febre na cama. 

TDM: Qual é o seu maior desafio (recorrente) pessoal para alcançar a inconstante felicidade?
Ivete: Eu não tenho essas crises comigo, não. A minha maior preocupação é se eu vou ter saúde para trabalhar. Porque até trabalho eu tenho para fazer. Então eu não tenho esse tipo de preocupação. Eu acho que a maior preocupação do ser humano, independente de ser mulher ou não, é ter saúde para desfrutar ou até mesmo amargar as dores do dia a dia. 

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